quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

C³ x 5 - AVATAR

Por Marcelo Cotinha

         Eu me sinto como Jack de Titanic escrevendo sobre esse filme: Eu sou o Rei do Mundo! Ou quase isso. Sem dúvida, Titanic marcou o mundo do cinema em 1997. Foram 11 Oscars dentre tantas outras premiações. James Cameron, o lendário diretor de Aliens e Exterminador do Futuro 2, foi brilhante no filme naufrágio dos anos 90. Anos depois, alguns críticos especializados esperavam que Cameron nos concedesse algo tão grandioso quanto, mas ele se silenciou. Alguns teólogos cristãos afirmam baseados à luz da Bíblia que quando Deus se cala, Ele esta trabalhando. Sobre essa premissa, e seguindo as palavras de Érico Borgo, James Cameron, um deus cinematográfico, não só trabalhou arduamente como nos levou a contemplar o seu labor magnífico. Ele criou o céu, a terra de Pandora e tudo que neles há. Inclusive os Na’vi. Cameron criou um mundo a partir do nada, e foi brilhante. A meu ver, Avatar é infinitamente superior a Titanic.

        Minha metáfora só faz sentido se você parar para ver o filme sabendo do trabalhoso processo criativo que se deu na tentativa vitoriosa de fazê-lo. Esse é o primeiro filme dirigido por Cameron depois do monstruoso Titanic. Ele iniciou o processo criativo entre 1999 e 2000, logicamente pondo suas idéias num roteiro, que também é dele. Cameron é dono do argumento, roteiro, produção e direção do filme. O seu labor foi sensacional. Vale até ingresso caro! Acho que exagerei aqui! Mas brincadeira à parte, eu que acompanho essa arte há pouco tempo, já vi filmes serem anunciados e dentro de dois ou três anos saírem para as telas. Mas nove anos? É muito tempo. E até mesmo antes de Titanic sair, Cameron já desenvolvia métodos para filmagem em 3D com alta definição. Fiquei muito curioso querendo saber por que tanto tempo assim. As primeiras notícias de Avatar que eu soube, foi há um bom tempo atrás, ou seja, dentro de uma média hollywoodiana. Mas já havia trabalho nele a cerca de cinco anos antes daquelas notícias, que pra mim eram novas. Isso, pra ser mais exato em 2006, que já tinha um orçamento previsto em 315 milhões de dólares. E eu só soube por que Peter Jackson estava envolvido no projeto. Jackson é o responsável pelo filme Senhor dos Anéis e toda sua trilogia e o último King Kong. Sua empresa é a responsável pelas maravilhas que vemos em Avatar, desta vez, bem menos defeituosa do que a que vemos em King Kong, por exemplo. O 3D do filme é esdrúxulo e nem chega perto daquilo que vemos em Beowolf, Expresso Polar, ou nos saltos do Homem-Aranha. A montagem beira a total e perfeição.

         Ressalto ainda que as filmagens duraram menos de oito semanas. As demais foram apenas captura de movimentos, como é utilizado nas filmagens 3D tradicionais, gravadas em fundo azul com os caras com roupas engraçadas com luzinhas. Cameron desenvolveu uma tecnologia ímpar para este filme. Claro, não foi somente ele, mas toda uma mega equipe com mais de 300 trabalhadores da Fox. Assim, para entendermos como as coisas funcionam, vejamos. Antes, no 3D comum, que já é muito caro, grava-se com atores normais, em fundo azul, a câmera capturava os movimentos desses atores e o cenário é colocado na pós-produção, ou seja, depois das gravações. Eles conseguiram uma maneira de fazer as duas coisas juntas. Capturam os movimentos e inclui o cenário quase que automaticamente, sendo possível incluir no mesmo momento da gravação. Maior parte do tempo da produção foi para desenvolver essa complexa tecnologia!

          Enfim, vamos para a trama. “Eu não conseguia distinguir o que era real e o que era virtual - mesmo sabendo que a criatura azul malhada de dois metros e meio não poderia ser real”. Esse texto do jornalista ianque Josh Quinttner, da revista Time; o primeiro repórter a ver Avatar. Eu confesso que me senti de igual modo. Bem, antes de iniciar os galanteios imagéticos, exalto que a história é bem simples. Jake (Sam Worthington) é um ex-fuzileiro cadeirante, que é enviado a um planeta distante, Pandora, substituindo seu irmão gêmeo cientista falecido na terra. A viagem dura cinco anos da Terra para Pandora. O cineasta nos poupa de saber como encontraram o planeta e tudo mais. Isentou-nos desta baboseira. Chegando ao planeta, vê-se que existe uma base avançada de exploração ali. Localizamos os cientistas responsáveis pelo projeto AVATAR que une a consciência humana nos corpos Humanos/Aliens dos seres humanóide que habitam Pandora, a raça Na’vi. A intenção é interagir com os nativos pandorianos com fins científicos, que seriam entender a linguagem e a totalidade da cultura Na’vi. O segundo objetivo, muito mais importante, seria negociar a saída dos nativos de uma determinada região do planeta, onde se encontra um mineral valiosíssimo, o unobtainium. Jake é utilizado no programa e vê-se realizado em poder andar novamente. Apesar da tecnologia avançadíssima, ele não tem dinheiro para recuperar sua coluna e reabilitar suas pernas. Diante de tal fato, o Coronel Quaritch (Stephen Lang) se utiliza e diz que assim que completar a missão de conceder informações a respeito da ciência militar Na’vi, teria suas pernas de volta. Ele aceita e tenta realizar seu plano, mas logo se vê traído pela sua própria vontade.

        Alguns aspectos do filme são muito interessantes. Primordialmente, ressalto o desenvolvimento dos personagens. Sigourney Weaver, a Tenente Ripley do mesmo Cameron no segundo Alien, é muito convincente, tanto como Humana quanto como Na’Vi. E como E.T ela é muito sensual, muito mesmo. A respeito disso, os Na’vi, são desprovidos de pudor. São “bons selvagens” dados à natureza – interprete isso da maneira que você quiser. Eles vivem numa sociedade tribal, bem organizada, semelhante às tribos americanas do período colonial, principalmente as das Américas do norte. A questão religiosa não tão explícita quando olhamos para os padrões hoje vigentes. Os pandorianos são Naturalistas, a divindade é a natureza. É quase uma adaptação da filosofia maia a respeito da floresta. Quanto a isso, os Na’vi são totalmente ligados à selva e aos animais – não falo isso metaforicamente. Existem conexões entre as árvores e cada animal de grande porte tem uma espécie de conector que se une aos dos Na’vi e os tornam um só. Assim, o jóquei pensa e o cavalo atende o comando imediatamente. Cameron enfatiza na totalidade de sua obra que sem a natureza de Pandora, os Na’vi não existiriam. Talvez ele estivesse tentando trazer à tona uma discussão a respeito da preservação ambiental, ou talvez incluir o homem novamente na natureza, uma vez que com o iluminismo antropocêntrico nós deixamos de fazer parte da dita cuja. E da maneira que o embate Na’vi – Humanos é nos mostrados na tela, nós somos bestiais e movidos pela ganância desumana que há muito tempo nos persegue.

        Quando mergulho na história, relembro o sanguinário colonizador espanhol Fernando Cortez não medindo esforços para “colonizar” os maias, a fim de trazê-los à civilidade, e, por conseguinte, levar consigo o ouro. No caso dos Na’vi, Cortez é “reencarna” no Coronel Quaritch, e o ouro é substituído por unobtainium. As aparências não param por ai, mas não pretendo entrar nesse mérito. Gostaria de ressaltar a interpretação do vilão Quaritch. Ele da medo! O ator Stephen Lang é icônico em sua interpretação. Ele é mau, um verdadeiro Bad Boy. A cicatriz gigante ajuda bastante na criação do vilão. Ele é frio, sarcástico e bruto. Chegou a me lembrar o Coringa de Heath Ledger em O Cavaleiro das Trevas que ainda tem minha preferência. Mas o coronel realmente é muito bom, quer dizer, muito mau. Giovanni Ribisi também vai bem. Ele interpreta o líder da mineradora que almeja o metal tão valioso aos humanos, que por sua vez, fica em um dos locais mais sagrados para os Na’vi.

         O papel de Sam Worthington, assim como no ultimo Exterminador do Futuro 4, é determinante. Os dois Jake’s vistos na tela, tanto o Humano quanto o Na’vi são notáveis. A dualidade do personagem que oscila entre os dois mundos ali presentes em sua mente é importantíssima para o desfecho da trama. Imagine você aleijado, sem muitas perspectiva de vida futura, vê a possibilidade de viver intensamente uma nova vida despojadas das sentimentalidades e asneiras humanas. Desafiador. Ser um Na’vi ou não ser um Na’vi? Eis a questão! Sheakspeare que me perdoe pela utilização de sua escrita. Peço perdão porque o embate que Jake vive não se assemelha nem de longe com o de Hamlet. Talvez, dependendo do olhar, até podemos dizer que não há um embate propriamente dito, mas sim uma renuncia total das mazelas humanas. E essa renuncia ocorre de fato, principalmente pela ajuda da bela Neytiri, que, vivida pela linda morena Zoe Saldanha.

        O roteiro de Cameron segue uma premissa bem simples, entretanto, consegue nos segurar na frente da tela de maneira precisa. Suas duas horas e quarenta e dois minutos não passam, acontecem na tela. Quando acaba, você sente muito porque acabou. É assim que ele ocorre. Infelizmente o filme só tem esses ínfimos 162 minutos. Ele é intenso, frenético e a trama é muito interessante. Talvez seja pela experiência em ver um estranho vivendo numa outra cultura totalmente diferente da sua atual. Clichê! Não sei ao certo, mas confesso que a película vai lhe segurar na poltrona, sem dúvida. E isso acontece não somente pelo visual que nos é apresentado, mas também pelo roteiro bem montado.

            Este último adjetivo é cabível, entretanto, ressalto que algumas coisas podem até não nos convencer, como por exemplo, o fato de que acabamos com a Terra, encontramos outro planeta habitável e o nosso único interesse lá além de científico é um metal valioso que não teria outro valor além do comercial. Isso é patético! Sem levar em consideração que além dos riscos para extrair tal minério, o tempo para esse bendito chegar à terra são cinco anos! Ridículo! Imagine você com uma mineradora lá em Pandora e só poderá receber os dividendos da dita cuja, a respeito do material coletado hoje, agora, daqui a cinco anos. Acho que nesse ponto o roteiro é falível, mas nada que nos incomode muito.

          Agora sem dúvida nenhuma o fator primordial e inegavelmente fácil de perceber é a qualidade visual do filme. É sensacional! O 3D está presente em cada quadro da tela e é tudo incrivelmente real. Imaginava que seria como Beowolf mas nem chega perto. Como o Josh Quinttner, o repórter da Time que citei antes, assim como Érico Borgo, um dos responsáveis pelo Omelete.com afirmaram, não da pra destingir o que é em 3D ou não. O universo de Pandora foi totalmente criado artificialmente e de forma muito, mas muito convincente nos é apresentado. É quase emocionante, quase, quando vemos os pés do avatar de Jake afundando na terra. É muito bem feito. Érico Borgo disse: É curioso notar como o cineasta passou uma década mergulhado em seu projeto e ele surja ainda tão inovador, à frente de seu tempo. Eu concordo com ele exatamente nesse aspecto. Imagine que o cara trabalhava numa forma de adaptar melhor o ambiente 3D ao 2D tradicional desde 1995. Cameron já especulava maneiras de melhorar a tecnologia 3D em filmes e AVATAR é a prova viva, digo, gravada disso.

            Avatar não é só coisa boa. Foi tão bem divulgado com traillers arrasadores e tudo mais, criando uma expectativa muito grande a respeito do filme. Só que apesar dos avanços inegáveis da gravação IMAX, teve algumas polêmicas a respeito da produção. Na verdade dois processos. Processos de plágio. O primeiro processo seria executado pela empresa cinematográfica Fathom Studios, companhia que produziu o filme Delgo (2008). Esta animação detém o recorde de pior estréia do cinema mundial que em 3 dias de no ar – primeiro fim de semana de estréia – conseguiu apenas 512 mil dólares, com média de duas pessoas por sala. Entretanto, apesar do fiasco, o visual é muito parecido com Avatar. Ressalto que Delgo é animação e Avatar Live Action. Comparando as produções financeiramente falando, Delgo custou ínfimos 40 milhões dólares, enquanto Avatar beira 460 Milhões. Um porta-voz da Fathon Studios disse: “estou impressionado com as similaridades entre os dois filmes e estudando que opções jurídicas estariam disponíveis para nós”. Confesso que até agora, não sei se o processo já esta rolando ou não, mas se você quiser ver a suposta similaridade, veja algumas fotos comparando os dois no link a seguir e tire suas conclusões (http://www.sitedomau.com/cinema/avatar-plagio-de-delgo.html) .

          O outro processo é a respeito da obra do norte-americano Poul Anderson, intitulada Call Me Joe, de 1957. Assim como Avatar, Call Me Joe acompanha um paraplégico, no caso Ed Anglesey, que se conecta por telepatia com um corpo criado artificialmente, com o qual Ed consegue explorar a selvagem superfície de Júpiter. E não é só isso, veja o visual no link a seguir. (http://www.twotalkingmonkeys.com/wp-content/uploads/2009/10/avatar-call-me-joe.jpg) Muito parecido mesmo. Cameron já foi processado antes por plágio, em Exterminador do Futuro onde teve que fazer um acordo no tribunal com Harlan Ellison e cedeu créditos ao cineasta e produtor de TV. Coisa do mundo de Hollywood.

Em suma caros colegas, AVATAR é uma obra cinematograficamente icônica! Revoluciona a indústria de cinema com seu novo método de criação. Talvez não consiga superar a bilheteria de Titanic, mas isso pouco importa diante do trabalho magnífico executado por Cameron. A obra vale o ingresso! O sentimento que nos arrebata é o de retornar ao filme. A obra não nos cansa, pelo contrario, nos atrai para ela como se fosse algo viciante. O filme é intenso e possui uma áurea de tensão densa que não nos constrange, pois não se força à barra. Tudo o que acontece é facilmente digerido, pois todo o argumento, apesar do erro do roteiro que mencionei, tudo se encaixa perfeitamente, principalmente o desfecho de Jake. De tantos adjetivos que poderia tecer a respeito de AVATAR, acho que o que melhor caberia à película seria: Arrebatadoramente singular e encantador!




4 Comentários:

Unknown disse...

Caramba... acho que essa resenha é tão grande quanto o filme.... rsrs... Mas não interpretem mal essa afirmação, pois seu conteúdo mantem-nos presos da mesma forma arrebatadora quanto quando assistimos ao filme... e isso quer dizer que Cotinha está ficando tão bom quanto o 3D....rsrs... É muito bom entender um pouquinho mais o que acontece na criação de um filme tão grandioso... E é melhor ainda quando encontramos uma pessoa com o talento de transmitir tantos conhecimentos de forma tão qualificada e simples...
Poderia passar muito tempo aqui tecendo elogios, mas vou deixar palavras pras próximas resenhas que, tenho certeza, serão melhores ainda!
Assim parabenizo-o pelo talento e aguardo anciosa os próximos comentários...
Congratulações C³!!!!

D'Paula disse...

não serio msm .....esse foi muito de se lenh.....

rapaz,e eu pensando q nunca mais teria um filme melhorsin p assistir....depois de tanto esperar filmes q pensava q seria legal...ai o cara faz avatar....caranba,muito massa mesmo viu...só um palavrão p expressar q o filme é de se lenhar demais..... aprovado !!!! vou assistir dinovo

D'Paula disse...

e o comentario ta fiel ao filme viu sr° cotinha....rsrs realmente esse filme realmente deixou muitos de boca aberta...embora tenha muito boca aberta.. mais....o filme não foi o que eu esperava,antes de ler sua valorosa critica.pensei eu q seria só mais um..... é claro q me enganei...

Marcelo Cotinha disse...

O filme é isso tudo mesmo! Valeu pelos comentários e espalhem Cotinha pela Net!
Abraços!!

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